Mari e as coisas da vida, de Tine Mortier e ilustrações de Kaatje Vermeire Publicado em: Caderno 2 - Estadão - 12 de agosto de 2012
A vida é tão efêmera quanto a flor que se desprende da cerejeira. Ao longo dos tempos, a árvore esteve associada à transitoriedade da existência humana e sua flor, ao amor, à felicidade, renovação e esperança. Não por acaso, a cerejeira, suas flores, e seus frutor permeiam a narrativa de Mari e as coisas da vida, lançamento da Editora Pulo do Gato.
Mari nasce em uma cadeira de palha, aos pés de uma cerejeira. Impaciente e enérgica como só as crianças podem ser, ela tem na avó sua melhor amiga. E as duas são parecidas, igualmente ativas e gulosas. Correm da cerejeira ao portão, dão a volta no laguinho, comem bolachas, se balançam no tronco da árvore.
Mas a vida surpreende, e a menina encontra a avó caída no chão. O avô conta que ela tropeçou. Esperta, Mari, desacredita. A avó mergulha em um sono profundo, tão intenso quando a dor da garota, que pede a ela para acordar, voltar a correr, a contar histórias, a comer bolachas.
Menina, Mari enfrenta a doença ao lado da avó, como muitas vezes nem os adultos são capazes de suportar. É companheira e está perto quando ela desperta. Porém, a alegria com que a neta dança em volta da cama se evapora quando a garota descobre que a avó não fala, que se esqueceu de um monte de coisas. Mari indaga, mas ninguém responde. Sente raiva, chuta a cama e desabafa: "Ai, assim dói! Mas eu não estou nem aí para a dor".
Com delicadeza, Mari elabora o seu sofrimento. Faz desenhos coloridos para enfeitar as paredes do quarto no hospital, cria pequenos enfeites para a mesinha da cabeceira. As enfermeiras chiam, mas a neta segue: só ela entende o que a avó quer dizer. O livro tem uma virada e também fala da morte e despedida.
No desenrolar da história, a escritora belga Tine Mortier continua rimando dor e cumplicidade, sofrimento, amor, sempre sob a perspectiva da criança. A história é entrecortada por pensamentos e falas de Mari. São nessas frases que a menina revela suas angústias, seus medos, seus desejos e sentimentos.
A dureza da história contrasta com a suavidade dos desenhos da premiada ilustradora Kaatje Vermeire, que utiliza colagem, pintura e desenho para compor imagens intensas e repletas de detalhes narrativos. As páginas tem texturas diversas e são sombrias quando precisam ser.
Por: Bia Reis
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