Seleção de obras infanto-juvenis e didáticos para a estante do educador Publicado em: Carta Fundamental - Outubro de 2013
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MEDO UNIVERSAL
Com fantasia e tristeza, espanto e imaginação, Harvey, Como me Tornei invisível trata de um tema caro à literatura infantil: a morte
Há temas que amedrontam o ser humano desde sempre. E a morte é um deles. Um daqueles que, mais dia, menos dia, todos têm de se defrontar e tentar entender o que provocam. Mas como falar de morte para uma criança? Como introduzir no universo infantil um assunto tão complexo e ao mesmo tempo tão simples e presente na vida de todos nós?
Como tantos outros assuntos, a morte pode entrar no mundo das crianças por meio da fantasia. É assim que os autores de Harvey, Como me Tornei Invisível, Hervé Bouchard e Janice Nadeau, trataram dessa questão: de maneira absolutamente criativa, delicada e inteligente. Texto e imagem, num diálogo preciso e sutil, contam a história de um menino que descobre, de repente, que seu pai morreu. O traço fino e o texto de frases curtas contam como Harvey lida com essa tragédia pessoal como menino que é. Com fantasia e tristeza, com espanto e imaginação.
A literatura permite um grande encontro entre o que tememos e o que precisamos saber. Por meio dela podemos lidar com o que é mais obscuro sem nos assustarmos, pois nos aproxima de tudo o que é humano, como poeticamente traduz a pesquisadora argentina Maria Teresa Andruetto em Por uma Literatura sem Adjetivos: “... a literatura é essa metáfora da vida que continua reunindo quem fala e quem escuta num espaço comum, para participar de um mistério, para fazer que nasça uma história que pelo menos por um momento nos cure de palavra, recolha nossos pedaços, junte nossas partes dispersas, transpasse nossas zonas mais inóspitas, para nos dizer que no escuro também está a luz, para mostrarmos que tudo no mundo, até o mais miserável, tem seu brilho”.
Quando o menino Harvey conta como se tornou invisível ao ser confrontado com a figura de seu pai no caixão, ele revela às crianças muito mais – e de maneira mais profunda – sobre a morte do que podemos supor. E é essa magia que faz com que livros assim sejam um verdadeiro presente.
Harvey, Como me Tornei Invisível, de Hervé Bouchard e Janice Nadeau, tradução de Luciano Vieira Machado, SP, Ed. Pulo do Gato, 2012.
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