As coisas da vida nem sempre são fáceis, mas Mari está aí para nos lembrar de que a paciência tem nada a ver com aceitação. Menina doce e prática, que nasceu debaixo de uma cerejeira, ela nos encanta com palavras fortes e ilustrações extremamente delicadas. - Blog Garatujas Fantásticas - 31/03/2013 Publicado em: Blog Garatujas Fantásticas - 31/03/2013
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As coisas da vida nem sempre são fáceis, mas Mari está aí para nos lembrar de que a paciência tem nada a ver com aceitação. Menina doce e prática, que nasceu debaixo de uma cerejeira, ela nos encanta com palavras fortes e ilustrações extremamente delicadas.
Algumas histórias nos pegam desde o começo. “Mari e as coisas da vida”, da editora Pulo do Gato, me emocionou desde a primeira página, me fez sentir um aperto no coração lá pela terceira e querer abraçar os personagens até o final. Talvez porque com eles eu pude voltar no tempo, sentir alegria e saudade num só instante e, por isso, vale o aviso: pode acontecer com você também.
Que linda garota, que corre em volta do lago e dos campos de flores, balança enquanto grita com os pássaros, come bolacha sem parar e faz tudo isso de novo e sempre na companhia de sua grande amiga e avó. Mari e sua avó são iguaizinhas e assim carregam uma amizade de encher os olhos. Mas chega o dia em que a avó se cala.
A autora belga Tine Mortier esbanja sensibilidade para falar dessa relação que, depois de tantas brincadeiras, parece querer perder a graça. Mas não. A avó perde os movimentos e troca a língua afiada por sussurros e pequenas palavras – essas que somente a neta é capaz de entender. E a história segue firme em ilustrações poéticas e realistas, criadas pela premiada ilustradora belga Kaatje Vermeire [dela também saiu pela Pulo do Gato "A Mulher Gigante da Casa 88"].
A narrativa profunda é perfeita para o trabalho de Kaatje em misturar técnicas de pintura e colagem. Texto e imagens se encaixam num entrosamento sofisticado. Cada dupla de páginas traz um trecho da história e uma ilustração específica, uma pequena obra de arte criada especialmente para aquela cena. Assim, cada dupla separa-se do restante como um convite àquele momento. E mesmo em cenas isoladas, o fio não se perde, pois a prosa é sempe saborosa. Virar a página é ver um novo dia surgir para Mari e sua avó, numa técnica inteligente de trabalhar o texto com a imagem, como se cada trecho fosse um pequeno conto ilustrado.
A doença é vista por todos como uma doença. Para Mari, é motivo de preencher as paredes do hospital com desenhos, inventar histórias, dar uma bronca nas enfermeiras que querem servir sopa quando só ela sabe que o que a avó quer é bisteca com batata.
Uma relação baseada na forte amizade é o centro desse livro que consegue deixar a doença de lado para falar de amor. Um amor da neta pela avó, da avó pelo avô, de como tudo segue e a gente só precisa seguir junto – com carinho, otimismo e atenção.
Deixe-se levar pelas flores que estão em quase todas as páginas, pelo vermelho vivo do vestido de Mari e pelo olhar sereno da avó. Se dizem que um livro é bom por despertar algo na gente, Mari, com seu jeito único de colocar em prática o que vê ou sente, é daquelas garotas com quem todo mundo gostaria de dividir lindos momentos, todos cheios de vida.
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