Azzi é uma garota de mais ou menos dez anos de idade, que deixa o país com a família por causa da guerra. O país? Pode ser qualquer um do Oriente Médio. Isso não importa para a prestigiada autora e ilustradora Sarah Garland, que encontrou em refugiados asiáticos uma história para o livro Um outro país para Azzi, publicado no Reino Unido pela Frances Lincoln, e agora no Brasil pela editora Pulo do Gato. - Site Opera Mundi - 17/11/2012 Publicado em: Site Opera Mundi - 17/11/2012
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Azzi é uma garota de mais ou menos dez anos de idade, que deixa o país com a família por causa da guerra. O país? Pode ser qualquer um do Oriente Médio. Isso não importa para a prestigiada autora e ilustradora Sarah Garland, que encontrou em refugiados asiáticos uma história para o livro Um outro país para Azzi, publicado no Reino Unido pela Frances Lincoln, e agora no Brasil pela editora Pulo do Gato.
A história começa com a guerra se aproximando e a rotina da família passava sem ser abalada. O pai, médico, trabalhava, enquanto a mãe costurava, a avó era uma ótima companhia e os amigos chegavam para brincar. É verdade que algumas vezes os soldados marchavam nas ruas e o barulho dos bombardeios assustava até mesmo as galinhas, que já nem ovo botavam mais.
Um dia, veio um telefonema que mudou tudo. Desesperados, eles deixaram a casa, mas a avó fica. Mãe, pai e filha abandonam o país em um barco disputadíssimo. Nessa travessia, é impossível não sentir frio, fome, sede ou medo junto aos personagens. Além da descrição simples e real, a narrativa ganha força contada em quadrinhos e num traço bastante colorido e feito de detalhes. Nesse formato, o texto se encaixa em cada cena e as emoções transbordam na mais diferentes expressões dos personagens, com quadros maiores ou menores.
"Quando Azzi lambia seus lábios secos, sentia gosto de água salgada. Quando se agarrava a Bobô [ursinho], o pelo dele estava duro, também por causa da água do mar. Quando tentava dormir, o coberto de vovó estava úmido e gelado."
No entanto, essa experiência em nada se compara à vida nova. O que a artista explora no livro são as consequências e dificuldades que famílias refugiadas são obrigadas a enfrentar. Ser imigrante - quando não se trata de uma escolha - é começar do zero mesmo, aprender forçado um idioma, buscar um emprego diferente, assumir preconceitos e encarar discriminações antes desconhecidas.
Com muita sensibilidade, Sarah Garland nos mostra como é complicado lidar com os agentes de imigração, encontrar vaga em uma escola, acompanhar as angústias de uma criança ao se deparar com uma cultura toda "estranha", com uma língua que ela não entende, com a saudade dos amigos do outro lado do mundo, com os pais preocupados em conseguir dinheiro para comer, com a avó que nunca mais deu notícias.
Apesar de tantos acontecimentos ruins, o livro não carrega uma imagem triste. Para a criança que lê, está mais para uma aventura do que para uma dura realidade. É com ternura e uma pitada de humor, até mesmo nos piores momentos, que a família consegue superar a rotina nova. Conforme o tempo passa, a autora relata exemplos positivos de força e coragem. Novos hábitos caem no costume, sabores já agradam o paladar, uma esperança é capaz de trazer menos medo e mais vontade de viver.
Para a família de Azzi, a sensação de fugir de um lugar não passa fácil, mas a chance de construir um outro caminho é uma verdade boa. Já a falta da avó aumenta, e isso é o mais difícil para a garota, que não sabe quando e se vai vê-la novamente.
Uma história real
Foi no inverno de 2010, em uma pequena cidade da Nova Zelândia, que Sarah viu o desespero na expressão de um grupo de pessoas que havia saído do Butão e da Birmâmia para tentar a vida ali. As crianças foram quem mais chamaram a atenção da artista, que logo correu para a biblioteca municipal para achar algum livro infantil que retratasse algo parecido, alguma história que pudesse ajudá-las. Não achou.
Por alguns meses, estudou histórias e memórias de quem precisou fugir ou foi exilado de seu país. Sarah onviveu com famílias, pesquisou leis de imigração e direitos humanos, e acabou criando Azzi. Não especificar o país da personagem foi uma forma de tornar a história um elo para todas as pessoas que passam por isso ou têm interesse no assunto. "Independente da nacionalidade, as dificuldades de quem passa por um processo desses são sempre as mesmas, uma adaptação ao novo e uma imensa saudade de tudo que teve de ser deixado para trás", diz na abertura do livro.
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