Por Bia Reis e Cristiane Rogério, do blog Estante de letrinhas, Estadão Publicado em: Blog Estante de Letrinhas - Estadão - outubro de 2017
http://cultura.estadao.com.br/blogs/estante-de-letrinhas/um-diario-muitas-criancas-e-uma-pedagogia-de-respeito-a-infancia/
História se passa em um orfanato na Polônia, sob cuidado do Doutor Janusz Korczak, o incentivador da 'pedagogia da alegria', centrada no amor, na compreensão, na solidariedade e no respeito à infância
Este livro, ops, este diário poderia ser como outros diários são. Tem histórias específicas narradas por uma única pessoa. Tem fotos, desenhos, detalhes, interpretações de mundo. Mas quando lemos Diário de Blumka, lançado pela editora Pulo do Gato, vemos mais.
Tem Blumka, uma menina que viveu em Varsóvia, na Polônia, com outros amigos:
O Zygmus, que até de gosta de óleo de fígado de bacalhau e que trabalhou duro a primavera toda numa cozinha, economizou o que ganhou, foi ao mercado, comprou um peixe ainda vivo e o soltou no rio mais próximo;
O Abramek, o melhor marceneiro da oficina, que faz as gavetas mais bonitas;
A Hanna que, quando chegou à turma, ninguém queria brincar com ela pois ela xingava e brigava com todos;
O Aron, o melhor costureiro do lugar e que chora muito à noite, mas, no dia seguinte, não se lembra de nada. Será que ele será um grande alfaiate como o avô?
Lugar? Mas que lugar é este com crianças e seus ofícios? Um orfanato. Um orfanato na Polônia cuidado pelo Doutor Janusz Korczak, que se tornou conhecido como um incentivador da “pedagogia da alegria”, centrada no amor, na compreensão, na solidariedade e no respeito à infância. É pelas mãos em textos e imagens da também polonesa Iwona Chmielewska que conhecemos algumas das 200 crianças órfãs judias que Doutor Korczak acolheu após a primeira guerra. Desenhos, colagens e um tom de texto que nos surpreende a julgamentos e durezas de um tipo de vida distante de nós pelo tempo, mas muito perto pelas características do que pensamos sobre infância e cuidados com ela.
Korczak foi também um dos pesquisadores principais a defender o ensino como uma troca de aprendizados e experiências, em que o afeto, o respeito e a liberdade são cruciais para fazer acontecer. Após sofre ameaça com o advindo do nazismo, as práticas do doutor ficaram como legado e seus conceitos de educação foram base e para a Declaração dos Direitos da Criança, em 1959.
A despeito do que, adultos, podemos entender da importância destes encontros para a nossa sociedade, o leitor mais novo pode conectar-se com o livro ilustrado com esta mistura de realidade e ficção para, quem sabe, se sensibilizar com a insuportável dor das injustiças das tantas guerras nas tantas infâncias de nossa história.
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