LEO CUNHA FATURA MAIS UM: “UM DIA UM RIO” LEVOU O PRÊMIO FNLJ (2017) DE MELHOR LIVRO DE POESIA Publicado em: Leiturinhas - maio de 2017
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Leo Cunha nasceu em Bocaiúva, norte de Minas, mas desde os 2 anos de idade mora em BH (Belo Horizonte). Desde 1993, já publicou 5 livros de crônicas e mais de 50 livros para crianças e jovens. Também traduziu outros 30. Seus livros já receberam os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como o Jabuti, Nestlé, João-de-Barro, FNLIJ e o Prêmio Biblioteca Nacional, este último em 2013. É Doutor em Artes, Mestre em Ciência da Informação, Especialista em Literatura e Graduado em Jornalismo. Atua como professor universitário desde 1997, em cursos de graduação e pós-graduação.
LEITURINHAS – 2016 foi o ano “musical”, como você afirmou, pois seus poemas infantis foram musicados em lançados em Cds por dois compositores distintos: “O que você vai ser quando crescer” (por Thelmo Lins), este inclusive foi levado ao palco, “Bicho-mistério” (com Zé Campelo). Qual a sensação de ter sua obra expandida para outras artes? Após essa experiência, você se sente um poeta-compositor?
LEO – No caso destes dois CDs, os poemas já existiam e os compositores exploraram elementos melódicos e rítmicos que, talvez, já estivessem sugeridos no texto. Acho muito bacana ver meus poemas ganhando forma musical. Isso já tinha ocorrido em meu livro-CD “Clave de Lua”, lançado em 2001 pela editora Paulinas, com músicas de Renato Lemos, André Abujamra e Luiz Macedo.
Caso bem diferente ocorreu com o CD “Impressão”, de Bernardo Rodrigues, que também foi lançado em 2016. Primeiro porque é um CD para o público adulto. Segundo porque, na maioria das faixas, a melodia já existia e eu criei a letra especificamente para as canções. É um processo criativo bastante diferente esse, de pôr palavras em uma música.
LEITURINHAS – Em ocasião da tragédia ocorrida com o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, você redigiu e publicou o livro Um dia, um rio. Como foi o processo de construção da abordagem de um tema tão sério e impactante para um público tão jovem?
LEO – A tragédia de Mariana me perturbou muito, como mineiro e principalmente como pessoa que se preocupa muito com o futuro do planeta, dos rios, das matas. Desde os primeiros dias, acompanhei todo o noticiário, os anúncios evasivos e muitas vezes enganadores da mineradora, tudo isso me incomodou demais.
Mas, curiosamente, a iniciativa de escrever o livro “Um dia, um rio” nasceu da Márcia Leite, editora da Pulo do Gato. Ela queria publicar um livro infantil sobre o tema e me convidou, porque eu era poeta e mineiro. Ela me apresentou não propriamente uma encomenda, mas um desafio: um livro que desse voz ao rio. Pegando esse mote, escrevi o poema, ou a história (na verdade o livro se situa entre os dois formatos; é um poema longo, que se estende por todo o livro, mas pode também ser lido como uma prosa poética).
Para aproximar o assunto do leitor infantil, minha ideia foi humanizar o rio, fazer com que ele fosse uma personagem simpática, acolhedora, frágil. Assim, quando o rio é atacado, o leitor sente fortemente o impacto, que está nas palavras, sobretudo na imagem.
LEITURINHAS – O livro Um dia um rio foi ilustrado, de forma original e sensível, por André Neves. Qual foi sua sensação quando se deparou com as imagens e com o diálogo que elas travam com o texto que você criou?
LEO – O trabalho do André foi impressionante. Desde os primeiros esboços que ele enviou, a gente percebia que era uma ilustração maravilhosa, expressiva, envolvente, que completava as dobras e os vazios do texto. O casamento de texto e imagem foi perfeito, na minha opinião.
LEITURINHAS – Apesar de Um dia um rio tratar de um assunto sério e real, você o finaliza com uma mensagem positiva. Isso seria um convite à criança para formar um mundo melhor? Até que ponto a literatura pode contribuir com a formação humana?
LEO – Sim. Acredito muito no poder formador e transformador da arte. Seja na música, seja na dança, seja num livro como esse, que mescla poesia e artes visuais. Acredito que o livro tenha no leitor um impacto maior do que uma notícia que informe sobre a tragédia ou um artigo jornalístico que condene a mineradora, por exemplo.
O livro aposta no caminho da emoção e da reflexão. Não é um livro-denúncia, é um livro para sensibilizar, para reunir as pessoas em torno dessa angústia e dessa necessidade de repensar a forma como lidamos com os rios, a natureza, a riqueza.
LEITURINHAS - Como escritor, tradutor, jornalista e professor universitário, você ainda arruma tempo para ministrar oficinas literárias e visitar escolas, dentre outas atividades. Todas elas partem e deságuam na literatura? Como você administra tamanha versatilidade no dia a dia?
LEO – Viajo bastante, trabalho muito como escritor e como professor, mas sempre com atividades que me dão prazer e me estimulam intelectualmente e emocionalmente. Isso é que mantém a empolgação e o pique. Tudo isso sem deixar de ser marido, pai, filho, irmão, tio, amigo. É uma maratona, um desafio, mas tento não pensar muito nisso, pra cabeça não dar tilt.
LEITURINHAS – Com tantos projetos realizados, livros publicados, poemas musicalizados, prêmios conquistados, admiração dos leitores, o que falta para preencher essa trajetória de sucesso?
LEO – Gostaria de ver meus livros mais traduzidos e publicados no exterior.
Nos primeiros livros, acredito que meu texto era muito focado na linguagem, na brincadeira com o idioma, em jogos de palavra etc. Com isso, eram mais dificilmente traduzíveis.
Ultimamente, tenho criado histórias que procuram ser cada vez mais universais, e menos dependentes do idioma.
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