Por Penélope Martins do blog Toda Hora Tem História Publicado em: Blog Toda Hora Tem Hisória - outubro de 2016
https://todahoratemhistoria.wordpress.com/2016/10/13/poeminhas-da-terra/
A linguagem é uma brincadeira que nos convida a redesenhar os conceitos mais primários. Quando alguém me fala da terra, eu lembro de batata, talvez porque seja uma coisa que brota escondido e que cresça sem se fazer perceber. A terra abriga mistérios redondos, outros nem tanto.
Na aula de francês, aprendi que maçã é pomme, batata é pomme de terre. Isso deu um nó na minha cabeça. Maçã num tem nada de batata, nem batata de maçã. Ambas gostam de lugares frios, é verdade.
Eu moro num país tropical e como maçãs durante a semana, batatas não faltam à mesa. Deve ser porque sou metade portuguesa, ou porque meu país é uma mistura de sabores da terra.
Na língua portuguesa daqui, tem mandioca debaixo da terra e pequi no alto do galho. Tem pitanga e guaraná e açaí e cajá (e isso me faz lembrar uma canção que diz ‘esteja cá já’, ou eu que entendi trocadilho no estribilho).
Com uma linguagem tão frutífera, Márcia Leite e Tati Moés plantaram Poeminhas da Terra e fizeram renascer um solo fértil para conversarmos sobre nossa língua brasileira.
O livro é um espaço de brincar com a linguagem, quer pelas palavras colecionáveis que Márcia desdobra em sabor, quer pelas imagens que Tati Moés distribui com a sofisticação e a elegância de quem sabe compor traços bailarinos.
Eu sempre repito, para exaltar a cultura brasileira, que o nosso molho tem borogodó, palavra que desafia os melhores temperos das africanidades que oferece a terra brasilis. Poeminhas da terra tem tudo isso: borogodó na cumbuca de barro para rechear o apetite de quem mora na oca, por cima um teto de sapé (e lá fora uma fogueira para assar batatas…).
Ps. Este livro integra a seleção Ler para uma Criança do Banco Itaú. Se você é educador, bibliotecário ou voluntário na leitura, pode pedir o seu exemplar aqui ó: https://www.itau.com.br/crianca/
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